Ao som de "Dos Gardenias", Ibrahim Ferrer & Buena Vista Social Club
Hoje liguei o micro, e comecei a ler notícias sobre música. Uma atrás da outra, nada novo. Até que a manchete estampada atacou minha vista: morreu Ibrahim Ferrer, aos 74 anos, em Cuba.
Fico particularmente sentido com essa notícia.Ferrer, que nasceu na província de Santiago de Cuba (leste) em uma casa humilde, era uma das estrelas dos anos dourados da música cubana. Cantou até 1970, no fim de seu último grupo, Los Bocudos. Os músicos em Cuba nunca foram bem pagos. Ferrer, que era cantor desde 1941, é um dos poucos e admiráveis músicos que suportaram a miséria do salário com uma pequena pensão do Estado, complementada com a renda de engraxate.
Tudo mudou, quando ele mesmo disse, "um anjo bateu minha porta". Era Juan Marco Gonzales, que a pedido do guitarrista americano Ry Cooder, procurava os artistas da velha guarda cubana para uma reunião musical.
Ferrer resistiu, mas acabou aceitando, e gravou junto a Compay Segundo, Eliades Ochoa, Omara Portuondo e outros o premiado Buena Vista Social Club, em 1996. O carisma e talento de Ferrer e dos outros transformou-os em celebridades internacionais. Em 1999, Win Wenders fez um documentário sobre a reunião, filmado apenas com uma BetaCam, que é um dos documentos musicais mais emocionantes da história.
Em 2004, Ferrer ganhou o Grammy de melhor álbum de música tradicional de salsa por "Buenos Hermanos", mas não pôde participar da festa de premiação, porque o Governo americano lhe negou o visto.
Que ouve toda essa história pela primeira vez pode achar um lugar comum. Mas Ferrer era um artista desses únicos. Ry Cooder costumava chamá-lo de "Nat King Cole cubano". Um grande cantor, de humildade única. Quando vi o documentário de Win Wenders sobre o Buena Vista, me emocionei muito. É uma interpretação muito íntima, e ao mesmo tempo calorosa com seu público. E a primeira música brega que me fez entender o romantismo por trás da coisa.
Vai fazer falta.