Tamos vivendo numa época de saudosismo brutal dos anos 80. E a indústria tá faturando alto em cima disso.
A classe média de hoje, na faixa dos 22 a 30 anos, foi a criançada da década passada, e hoje é o público-alvo dessas atrações do tipo "volta dos que não foram". Seja na música, nos costumes, livros, os anos 80 não são moda, mas sim um ótimo negócio de entretenimento.
Então não dá pra olhar toda essa bagatela de bandas oitentistas voltando sem ficar com o pé atrás. A sensação é boa, mas passa rápido se o artista não tiver o que mostrar de novo. São poucos os resgates que podemos falar que valeram a pena, tem gente que nem devia ter saído de casa (alguém aí falou em Paquitas??...)
No meio disso tudo, o Capital Inicial merece créditos pelo conjunto da obra pós-oitentismo. No panteão do atual rock brasileiro, a banda de Dinho Ouro Preto provou que pode viver de rock n'roll básico e agradar os fãs. Nada de muito especial, mas eficiente e energético, e por isso funciona. Diversão em alto nível, digamos assim.
E os caras foram beeeem mais atrás do que os anos 80. O último trabalho deles, o MTV Especial Aborto Elétrico, é um documento interessante do movimento punk em Brasília (cidade natal da banda) no comecinho dos anos 80. Trata-se da regravação das músicas da primeira banda punk de Brasília (talvez do Brasil, mas existem divergências por causa do movimento de São Paulo) que gravou músicas em português.
O Aborto Elétrico foi a inspiração para diversos grupos de rock que surgiram na década de 80 e marcaram a história da música brasileira, como Legião Urbana, Plebe Rude e o próprio Capital Inicial. Em seu comando, Renato Russo, o eterno legionário, e ao lado de Fê e Flávio Lemos, respectivamente, baterista e baixista do Capital.
Vale a pena ouvir esse disco, principalmente por conta das músicas do Aborto que ainda não tinham sido gravadas. São tormentos punk bem sinceros, era Renato Russo nascendo como compositor. Músicas como Verde e Amarelo e Construção Civil ilustram bem as influências dos moleques da colina. Fora as músicas já gravadas e bem conhecidas, como Conexão Amazônica e Veraneio Vascaína. Dinho não ajuda muito com seu vocal meio inadequado, mas a banda resgatou muito bem o clima, com uma produção musical simples e direta.
Soa oportunista, mas quem ganha com isso é o público. Se todos os resgates musicais fossem como um documento para que a molecada disseque e aprenda como se fazia rock naquela época, já seria um ganho danado pra formação deles. Afinal, antes de Linkin Park e seus genéricos existia o punk. O verdadeiro. E que os mortos despertem, se for pra puxar o pé deles.