22 janeiro 2006
Don't believe the hype

Afinal, o que é hype? Pode estar do seu lado e você não sabe.

Isso, abaixo, é hype.

Reprodução

Essa banda é o Arctic Monkeys. Os caras são a sensação atual do rock inglês. A manchete da revista New Musical Express diz que os caras já podem ter o álbum de estréia mais vendido da história do Reino Unido, desde o "Definetively Maybe" do Oasis (1994).

Sim, você leu certo. Podem ter. Nem saiu na loja ainda. A informação é baseada em reservas feitas pelas music stores de Londres.

Então, porque um álbum tão comentado assim? Simples: é o danado do hype.

Lembra na época das fitinhas cassete, o frenesi? Saia algo novo, já rolavam os K-7 na mão de um, que emprestava pra você, que gravava pra outro amigo... E assim as bandas, famosas ou não, garantiam um boca a boca vagaroso, mas consistente. Hoje, as fitinhas viraram arquivos MP3 e o boca a boca que durava dias agora se dá em segundos, pelo MSN ou nas comunidades do Orkut.

Hype não é modismo. Hype é hype. É rápido demais pra virar moda, e recente demais pra entrar no vocabulário geral. É apenas um assunto ou tendência do momento que vira o tal frenesi nas rodinhas. Eleva-se o assunto a um status alto em tempo recorde. E estabelecida a premissa, qualquer coisa pode virar hype, se for bem trabalhada.

Não se sabe bem se o hype musical nasce de caso pensado ou simplesmente do acaso. Acontece muito em regiões de grande efeverscência cultural, como grandes metrópoles, mas não é um fenômeno isolado. Alguém vê um show, deixa um post no orkut, baixa um MP3. A informação segue adiante. Começa o endeusamento. Aumenta o falatório. As colunas musicais dizem: você já ouviu a próxima melhor banda de 2006? E vira moda comentar sobre o assunto com amigos, se fazer de antenado e diferenciado porque você ouviu um som novo, e os outros não. Aí, não tem jeito: você está no mundo do hype.

Por conta disso, qualquer divulgação de música nova tem chance de atravessar o mundo em poucos dias, e virar a sensação do último reload de browser.

Hype é comentar sobre Strokes (que já deixou de ser hype faz tempo) porque o álbum novo caiu na internet, e dizer que eles são a salvação do rock, por exemplo. E depois já partir para outra banda, porque o hype dos Strokes não virou moda (existe uma grande travessia até lá).

Com o Arctic Monkeys foi o mesmo caso. No boca a boca virtual, a banda que nem tinha assinado gravadora ainda virou a preferida de 12 entre 10 críticos de música. É a prática das fitinhas na velocidade da luz. E agora, prestes a lançarem o primeiro álbum (que já tá na internet...), vamos ver se eles saem do hype e viram moda. Poucos conseguiram isso.

Não há nada demais em seguir um hype, não é ruim. O problema é confiar cegamente nele. Um hype bem feito tem defensores ferrenhos. Tente falar mal do Arctic Monkeys agora, por exemplo: seu email estará entupido de xingamentos, indignações e ameaças de trabalho escravo. E como dizia Nelson Rodrigues, "Toda unanimidade é burra".

Por isso, este blog (que ainda não escutou Arctic Monkeys...) recomenda muita atenção ao que você ouve (e lê, também). No fim das contas, é seu gosto que tem que prevalecer, e não o do hype. Siga, ouça, mas cuidado com as pregações cegas sobre a salvação do rock e de qualquer outra coisa que se aproveite de uma campanha de mídia. Ser uma cabeça pensante e decisória é o que nos diferencia dos animais, das caixas de sapato e das camisetas retrô com gola. Que, aliás, você soube que elas estão no hype?

Escrito por Anderson às 9:56 PM | | Fotenhas! 


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